sexta-feira, agosto 21, 2009

A Aranha do Chuveiro

Tenho uma aranha que vive no meu chuveiro
Acompanha-me diariamente enquanto
Eu, desatento, rapidamente tento me afastar dela.

Ela ouve minhas preces silenciosa.
Como quem ouve o choro dos encarcerados.
Vez ou outra sai para uma refeição enquanto esfrego os cabelos.
Avança para diminutos insetos e penso que tê-los para ela deve ser como não tê-los, para mim.

Tenho uma aranha que vive no meu chuveiro
Não maior que uma mosca, ela domina com garra
A extensão de três ou quatro dúzias de azulejos
É como morar no maracanã.

Tenho uma aranha que vive no meu chuveiro.
Pela manhã, me divisa a escovar os dentes
E sempre muito educada, não se aproxima
Até que eu esteja já no carro, saindo a cata de meus próprios insetos.

Ontem não a vi durante quase toda a noite
Soube mais tarde que havia saído para visitar a família.
Achei engraçado que ninguém nunca a vem visitar...
Ao menos que eu tenha visto.

Tenho uma aranha que mora no meu chuveiro
Uma aranha reles, nada demais... só olhos e patas.
Mas me admira como me atrai a atenção,
Me rouba os pensamentos e meio que me tira a razão

Tenho uma aranha que mora no meu chuveiro
Certo dia me peguei pensando quanto tempo levaria
Para que ela me carregasse inteiro a sua cova
E lá se dispusesse de mim como faz com seus diminutos insetos

Tenho uma aranha que mora no meu chuveiro
Ela nunca me disse, mas sei que ela só mora lá por minha causa
Gosta de ouvir minhas lamuriações e acessos
De ver-me despido de minhas frivolidades e ignorâncias

Gosta de sentir-se minha amiga, confidente
Passa os dias a se preparar para nossos encontros
E cada vez que aparece, está totalmente
Preparada e treinada para me deslumbrar.

Tenho uma aranha que mora no meu chuveiro
Tenho muita vontade de contar-lhe a verdade...
Mas receio que ela suma, ultrajada, e não volte nunca mais...